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domingo, 29 de junho de 2014

BRUZUNDANGA: A República de Lima Barreto

Lima Barreto inicia sua obra de publicação póstuma ''Os Bruzundangas'' onde ele fala de um país ''fictício'' de origem semelhante à do Brasil e ao decorrer da história irá narrar o contexto social, político e econômico e os problemas ''maiores'' e ''menores'' ao decorrer deste livro literário. 
Afonso Henriques de Lima Barreto 1881-1922)
mais conhecido como Lima Barreto,considerado
 um dos mais importantes escritores brasileiros.


No capítulo especial ''Os Samoiedas'' o autor começa a falar da literatura desse ''país'' de forma amistosa mostrando a literatura popular e oral onde os hinos e fábulas estão presentes, além da forte presença da cultura estrangeira que se mistura com o contexto social.
De maneira generalizada, a ''Bruzundanga'' possuía todas as características que as demais repúblicas possuíam, por exemplo, o sistema governativo. Sua fonte econômica não era variada nem estabilizada. Seu sistema político é visto como incompetente pelo autor a tal pouco de fazer críticas que nos remete a uma realidade da sociedade brasileira no período inicial da república onde ele mostra exemplos de políticos que usam o poder público em benefício próprio. A divisão entre a elite e a população menos abastada é nítida na república da Bruzundanga, onde nessa elite detém o poder e benefícios enquanto os pobres sofrem ao procurar uma melhor condição de vida.
Uma das várias edições da obra póstuma do jornalista
 carioca, na qual fala sobre um país fictício onde impera
a desigualdade social e o péssimo uso do
patrimônio nacional.
A política econômica da República da Bruzundanga é bastante instável, pois sendo um país de farta riqueza natural e propenso à boa evolução acaba por se estar na miséria, mas o que o autor tenta buscar um motivo para tal coisa e embarca numa análise da elite bruzundanguense onde o nepotismo está presente em assuntos do Estado. As riquezas naturais da Bruzundanga são semelhantes com a do Brasil como a borracha, ouro e diamantes, mas a base da economia do país é o café onde envolve até a política oligárquica favorecendo os mais ricos. A constituição da República do Bruzundanga era vista como uma mudança estrutural pelo qual o país precisava passar onde o autor faz uma ponte entre a Bruzundanga e o Brasil, ambos de origem colonial e que se consideravam contemporânea, além da base econômica que é a agricultura, onde o sistema do coronelismo é muito forte nas áreas rurais já que o braço do Estado não alcança a população campesina. 
Na sociedade bruzundanguense a elite está completamente ligada à política, os anos passam, mas essa elite que detém o poder do Estado continua atuando em todos os setores da vida pública. Lima Barreto ressalta o comércio feito na república bruzundanguense, onde o capital estrangeiro era crucial para a sociedade ao invés do enriquecimento econômico, ela acabaria por se empobrecer comercialmente. Outra semelhança que o autor descreve é a ''autonomia'' que as províncias da Bruzundanga possuem. De certo modo não há uma centralização do poder, ou seja, é semelhante ao sistema de oligarquias que o Brasil se encontrava no início do século XX onde essas províncias que possuíam uma forte influência política acabavam por manipular decisões nacionais.

O autor narra diversas histórias desse lugar de maneira ironizada para que o leitor se identifique com o Brasil nas questões como abuso de poder e o nepotismo do início da república onde pregava-se igualdade e direito para todos. Tal realidade desse país criado por Lima Barreto nada mais é do que a realidade enfrentada pela população brasileira do início do século XX, mas que ainda hoje continua sofrendo com os mesmo problemas nas quais o autor tanto citou, carregando traços de uma sociedade individualista e elitista que é a República dos Estados Unidos da Bruzundanga, ou melhor, dizendo do Brasil. 

BIBLIOGRAFIA: 
BARRETO, Lima. Os Bruzundangas. São Paulo: Martin Claret, 2009. -- (Coleção a obra-prima de cada autor; 288)

terça-feira, 22 de abril de 2014

Tordesilhas: O tratado que colonizou o Brasil



Nós não falamos português por acaso.

Linha imaginária demarcando os territórios pertencentes
 à Portugal e Castela em 1494.
O Brasil foi ''descoberto'' em 1500, com a chegada da frota do navegador Pedro Álvares Cabral. Portugal era uma das monarquias mais antigas e importantes da Europa, além de possuir habilidades náuticas mais avançadas do que os demais reinos. Mas antes da ''descoberta'' do Brasil feita por Cabral, iniciavam diversas expedições com o desejo de encontrar uma nova rota até as índias e possíveis descobrimentos de terras para a monopolização, o que ocorre em 1492 quando numa rota de circunavegação Cristóvão Colombo encontra as ilhas caribenhas ou a ''América''.
 No final do século XV milhares de cartógrafos e marinheiros saídos da cidade italiana de Gênova seguiram para Portugal em busca de melhores conhecimentos e experiências, e um desses expatriados era Cristóvão Colombo, que chega no norte de Lisboa e se junta ao seu irmão em um negócio comercial onde passava a trabalhar com mapas e como mercador sendo contratado em diversas viagens comerciais, Colombo que era analfabeto, aprendeu a  ler e escrever em Português (língua usada nos comércios náuticos no Atlântico). Segundo o historiador Stephen Bown seria provavelmente as duas combinações que deu a ele a ideia de que havia ilhas que ainda não foram descobertas no Atlântico e assim o mundo não estava totalmente conhecido.
O rei João II de Portugal em retrato anônimo por volta de 1500.
Considerado como um grande financiador das expedições marítimas
 em Portugal. A priri recusou-se a financiar as viagens de Colombo,
mas depois colaborou na negociação do Tratado de Tordesilhas.
Após décadas de experiências nas navegações pelas ilhas conquistadas e pela costa africana, a ambição de Colombo crescia cada vez mais, Com sua idealização de encontrar uma nova rota ás Índias, o genovês tentou apresentar uma proposta ao jovem rei de Portugal, D. João II, que não via problema nenhum em gastar os recursos do Estado para o custo das viagens que estivessem dentro de seu monopólio, porém a viagem proposta de Colombo era de competir com viagens que estavam acontecendo ao mesmo tempo, já que João II havia investido muito dinheiro na tentativa de uma nova rota mais eficaz, e posteriormente causando problemas políticos com o Papa e os monarcas de Castela e Aragão, já que a zona que seria explorada era aberta e possivelmente ocorreria uma tensão entre ambos monarcas. Depois das recusas do rei português, o navegador apresentou a proposta aos reis católicos que após o fim da reconquista em 1492 foi aceita e a viagem feita, onde o genovês encontra novas terras e reivindicou como monopólio hispânico.
O retorno de Colombo bem sucedido em favor de Castela e Aragão deixou enfurecido o rei português João II, que recorreu a uma série de documentos papais na tentativa de obter os territórios no novo mundo e os descobrimentos posteriores, no intuito de reclamar as ''Índias'' para Portugal, o rei equipou uma frota para cruzar o oceano. Os monarcas de Castela e Aragão enviaram ao papa, uma carta na qual pudesse haver um debate sobre a questão do descobrimento feito por Colombo financiado pela coroa castelhana. O papa  Alexandre VI, emitiu a primeira bula papal a Inter Caetera, designando aos reis católicos e toda sua descendência total direito sobre as terras recém conquistadas, assim o papal fazia a linha na qual dividiria o mundo.
Desembarque de Cabral em Porto Seguro
por Oscar Pereira da Siva (1904)
 ''Espanha'' e Portugal confirmaram todos os decretos da bula papal Inter Caetera no tratado assinado na vila castelhana de Tordesilhas, em junho de 1494, mudando depois somente as linhas de marcação entre as zonas de influência espanhola e portuguesas centenas de milhas a oeste, tal tratado serviria para manter a paz entre dois reinos poderosos e recompensa-los pelo trabalho de ambos nas Cruzadas em favor da cristandade, e mesmo que o Tratado de Tordesilhas tenha tido outros caminhos, serviram como uma influência não só comercial mas cultural para o surgimento de nações que a priori eram colônias e que serviram como fonte de lucro e riqueza para esses dois grandes reinos que por final possibilitou então a Portugal a realizar mais expedições e em 1500 ''encontrar'' a terra que viria ser chamada muito tempo depois de Brasil.

FONTE BIBLIOGRÁFICA:

BOWN, Stephen R. 1494. Tradução de Helena Londres. São Paulo: Globo,2013.

sábado, 19 de abril de 2014

Conjuração Mineira - Tiradentes e o mito do herói da República: PARTE 1


No século XVIII a região das Minas Gerais era considerada da ''menina'' dos olhos do reino português devido a alta na extração do ouro, chegando a exigir muitos recursos no processo de mineração. 
 A mais importante das reuniões dos conjurados,
por Pedro Américo.
E Durante o reinado da Rainha Maria I, que os humores entre a metrópole e colônia ficaram exaltados, gerando conflitos e tomando maiores proporções. Com a economia exaustiva na qual se encontravam os colonos pela escassez de ouro que havia em algumas regiões podendo afetar a Coroa portuguesa, medidas foram tomadas para uma rigorosa vigia de produtos extraídos da colônia. As estradas que ligavam o interior ao litoral foram proibidas de circulação e fechadas, foram exigidos que fossem feitos os pagamentos dos quintos atrasados gerando desconforto entre os colonos.
A pouco tempo as colônias que eram pertencentes à Inglaterra havia se tornado independentes e é nesse ambiente onde os humores se encontram exaltados insatisfeitos que as ideias revolucionárias vão começar a surgir. Os filhos de homens importantes na colônia que estudavam em Universidades europeias regressavam ao Brasil cheios de sentimentos de liberdade e independência contra os governos absolutistas. Com o atraso dos quintos, as taxas aumentavam cada vez mais e como consequência traria problemas financeiros para os mineiros. A economia entrava em conflitos, pois a Coroa portuguesa exigia um pagamento de 100 arrobas de ouro anuais quando a produção mineira não chegava aos 68 anuais entre os anos de 1774 e 1785. Assim as Minas Gerais passaram dever ao 364 arrobas de ouro, a derrama causou um impacto dentro da economia mineira atingindo não só a mineração mas também a população que teve que pagar as dívidas com a Coroa.
Bandeira da conjuração mineira com a
seguinte frase: Libertas quae sera tamen
(Liberdade ainda que seja tardia).  
Por dentro desta crise financeira na qual a sociedade mineira se encontrava, vão surgindo movimentos contra as decisões da metrópole. A conjuração mineira foi ganhando adeptos como o advogado e poeta Cláudio Manuel  da Costa, coronéis como Domingos  de Abreu Vieira e Francisco Antônio de Oliveira Lopes, o alferes Joaquim Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes, e outros homens que desempenhavam papéis importantes dentro da sociedade da cidade mineira de Vila Rica. Os planos dos inconfidentes, assim como também eram conhecidos, eram a proclamação das Minas Gerais (São João Del-Rei como capital) da Coroa portuguesa, além de abolir a escravidão e implantar universidades e forte comércio, porém os planos chegaram ao conhecimento do governador através de José Silvério do Rei, português, pertencente ao movimento dos inconfidentes que por fim traiu seus colegas de movimento.
 Tiradentes foi preso na cidade do Rio de Janeiro, na qual havia ido para garantir apoio a causa mineira, seus outros colegas também fora detidos em Vila Rica onde começaram a ser interrogados, tal processo para obter informações foi chamado de ''devassa''. Tiradentes só revelou os planos da conjuração após sete meses de prisão, que resultou na condenação com a pena de morte para ele e seus colegas: Alvarenga, Freire de Andrade, Maciel, Abreu Viera, Vaz de Toledo, Oliveira Lopes à pena de morte por enforcamento, os demais foram penalizados com o degredo para a África.

Martírio de Tiradentes, óleo sobre tela de
Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo.
 A influência de Tiradentes na ideologia revolucionária tornou-se forte, sua execução foi marcada para o dia 21 de Abril de 1792. A praça a Lampadosa estava lotada, onde a população pôde ver o alferes subir os degraus do cadafalso, despido, pedindo-lhe ao carrasco para que a execução fosse rápida, e após ouvir a oração do credo, o inconfidente foi executado. Morria um traidor da Coroa e nascia um mártir para a ideologia republicana. Após a morte, Tiradentes foi esquartejado, sua descendência declarada impura, sua casa demolida e sal fora jogado no solo para que nem ali as plantas nascessem. O inconfidente poderia ter morrido, mas os ideais estavam apenas começando a surgir. A figura de Tiradentes irá voltar a ser forte quando em 1889 é Proclamado a República, mas isso será visto adiante.

FONTE BIBLIOGRÁFICA:
MAIOR, A. Souto. História do Brasil. Companhia editora nacional,São Paulo, ed 7ª, 1969.
MAXWELL, Kenneth. A Devassa da Devassa: A Inconfidência Mineira, Brasil - Portugal, 1750-1808. (1ª ed., 1973). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Representações Artísticas

Tarcísio Meira como Pedro I e Kate Hansen como Leopoldina no filme Indepedência ou Morte, em 1972

quarta-feira, 19 de março de 2014

Aspirante a Imperatriz

"Mil tronos eu tivesse, mil tronos eu daria para libertar os escravos do Brasil" 
  Desde o início dos tempos o papel da mulher na História é desprezado, inferiorizando o gênero  feminino ou seja, a mulher deveria obter o papel de boa esposa e mãe zelosa e é no século XIX  que o papel feminino começa a  se tomar evidente em meio a uma sociedade patriarcal como é o caso do Brasil que há pouco tempo acabara de se consolidar como nação. Assim surge a figura de uma mulher, herdeira do trono imperial brasileiro, filha de um imperador intelectual e diplomático, considerado o pai da nação. A influência desta princesa iria mudar os rumos do império, sendo eles prosperidade a monarquia ou a queda do governo.
A jovem D. Isabel 
A Princesa Imperial Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon, nasceu no Palácio de São Cristóvão no Rio de Janeiro, capital do Império no dia 29 de julho de 1846. A princesa foi a segunda filha do imperador Pedro II e da imperatriz Tereza Cristina. Seu primeiro nome foi em homenagem a sua avó materna , a rainha viúva de Nápoles e o segundo em homenagem á sua mãe. Tornou-se a herdeira do trono, com a morte de seus dois irmãos durante a infância. 
A morte dos príncipes fez com que todos os cuidados se voltassem para a pequena Isabel, ficando sob os cuidados da baronesa de Sant' Anna. A princesa passou sua infância ao lado de sua irmã mais nova, a princesa Leopoldina,sua grande companheira. Com o propósito de preparar a princesa para exercer seu papel como imperatriz no futuro, D. Pedro II nomeia Luísa Margarida de Barros Portugal, a Condessa de Barral, para ficar a cargo da educação das princesas. A princesa nutria um grande interesse pelos estudos de ciência e química sob a influência de seu pai além de nutrir um profundo interesse pelas questões ligadas ao desenvolvimento da educação no país, especialmente a educação pública. Ao completar 14 anos, a princesa obedecendo a Constituição, prestou juramento de "manter a religião católica, observar a constituição política do país e ser obediente às leis e ao imperador''.


Fotografia do jovem
 casal, a princesa Isabel e Gastão,Conde d'Eu
No início de 1860 começaram os preparativos para que a princesa pudesse se casar, sob o auxílio de Francisca de Bragança, princesa de Joinville, que estava na França enviou ao Brasil os príncipes Gastão de Orléans, conde d'Eu e Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota, sobrinhos-netos do rei Leopoldo I dos Belgas, para que ambos casassem com as princesas. A priori o imperador queria que a princesa se casasse com Luís Augusto e  Leopoldina com Gastão, porém assim que as princesas conheceram os príncipes cada uma havia se encantado pelo prometido da outra e logo pediram aos seus pais para que ocorresse uma troca. O desejo foi atendido tanto por D. Pedro II quanto D. Teresa Cristina, que acreditavam que os casamentos não deveriam ser feitos somente pelas questões dinásticas mas também pelos sentimentos, a cerimônia ocorreu semanas após o encontro entre o casal, suas personalidades se completavam, o conde d'Eu era um marido tradicional, porém a tratava da forma mais carinhosa possível, e a princesa jamais contestava a supremacia de seu marido, pois ela sabia o papel de uma mulher na sociedade.
  Nos primeiros anos de casamento a princesa passou por uma série de abortos, afetando sua pública. Na primeira regência a princesa entregou as rédeas ao visconde de Rio Branco, porém  em sua regência que os assuntos de cunho abolicionistas tomavam novos rumos como a promulgação em 1871 da Lei do Ventre Livre para que ocorresse uma maior antecipação do fim da escravidão, logo depois medidas foram tomadas como leis que proibissem o tráfico negreiro interprovincial e que escravos que possuíssem sessenta anos ou mais fossem libertos. Já em sua segunda regência, a princesa encontrava problemas por causa do ressurgimento da questão religiosa e a grande seca no nordeste, mas em sua terceira regência foi que de fato D. Isabel assumiu as rédeas políticas do Império, a causa da abolição da escravatura foi abraçada pela princesa por que ia contra o dogmas da Igreja Católica,  e logo após ao forçar a renúncia do barão de Cotegipe, presidente do conselho de ministros.
  A Lei Áurea foi sancionada pela princesa em 13 de maio de 1888, ocasionou na libertação de todos os escravos do Império do Brasil, e tal lei jamais deveria ser contestada, tal feito deveria levar o Império brasileiro para um outro patamar de evolução encontrou muitos obstáculos dentre os quais ocasionaram no golpe de 15 de novembro de 1889, pondo um fim na monarquia brasileira e instaurando a República. A família imperial teve de ser obrigada a ir para o exílio e acabaram por fim perdendo o comando do país. A princesa passou o resto dos seus dias cuidando educação de seus netos e sua dedicação a obras de caridade até sua morte em 1921.



FONTE BIBLIOGRÁFICA:
BARMAN, Roderick J. Princesa Isabel do Brasil: Gênero e poder no século xix. São Paulo: UNESP, 2005. 
_______. Revista de História da Biblioteca Nacional: Dossiê Princesa Isabel. As duas faces de uma princesa, Rio de Janeiro, ano 7, nº 80, p.18-21, maio 2012.
PRIORE, Mary Del. O Castelo de Papel. Rio de Janeiro: Rocco, 2013.



sábado, 15 de março de 2014

Gênero e poder no Brasil Imperial

O Jovem Pedro de Alcântara aos 14 anos.

  Na Constituição de 1824, em seu artigo segundo, determina que a assembleia geral composta de 50 Senadores e 102 Deputados Gerais estabelecendo os Poderes executivo, legislativo, judiciário e moderador sendo o imperador era o chefe dos poderes executivo e moderador, além da presença dos partidos conservador e liberal. Havia uma crise econômica dentro do império brasileiro,o governo central desejava conter as revoltas sociais, as províncias reivindicavam cada vez mais poder e para resolver a situação, então foi preciso ocorrer uma medida para acalmar os ânimos das elites e da população, a medida que as autoridades regentes decidiram foi a antecipação da maioridade de Pedro de Alcântara, pois assim o Brasil voltaria a ter um poder forte e centralizado. 
 O Segundo Reinado iniciou-se com a declaração de maioridade de D. Pedro II, realizada no dia 23 de julho de 1840. Na época, o jovem imperador tinha apenas quatorze anos de idade e só conseguiu ocupar o posto máximo do poder executivo nacional graças a um bem arquitetado golpe promovido pelos grupos políticos liberais. Até então, os conservadores (favoráveis à centralização política) dominaram o cenário político nacional. Para contornar as rixas políticas, D. Pedro II contou com a criação de dispositivos capazes de agraciar os dois grupos políticos da época, os liberais e conservadores, tendo origem em uma mesma classe socioeconômica na qual barganharam a partilha de um poder repleto de mecanismos onde a figura do imperador aparecia como um “intermediário imparcial” às disputas políticas. Ao mesmo tempo em que se distribuíam ministérios, o imperador era blindado pelos amplos direitos do irrevogável poder moderador.
Coroação de D.Pedro II por François René.
  A situação contraditória, talvez de maneira inesperada, configurou um período de relativa estabilidade. Depois da Revolução Praieira, em 1847, nenhuma outra rebelião interna se impôs contra a autoridade monárquica. Por quê? Alguns historiadores justificam tal condição no bom desempenho de uma economia impulsionada pela ascensão das plantações de café. No entanto, esse bom desempenho conviveu com situações delicadas provindas de uma economia internacional em plena mudança. No Segundo Reinado. As cidades se modernizaram, a navegação a vapor agilizou o transporte de pessoas e de mercadorias. Inaugurou-se a primeira ferrovia, e a energia elétrica foi utilizada para iluminação das ruas e apesar destas mudanças o império encontrava-se uma crise interna. Em substituição as associações dos liberais radicais surge o clube republicano em 1870 no Rio de Janeiro que começava a ganhar apoios das províncias de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

FONTE BIBLIOGRÁFICA:


BARMAN, Roderick J. Princesa Isabel do Brasil: Gênero e poder no século xix. São Paulo: UNESP, 2005.
____. Revista de História da Biblioteca Nacional: Dossiê Princesa Isabel. As duas faces de uma princesa, Rio de Janeiro, ano 7, nº 80, p.18-21, maio 2012. 
VIEIRA, Hermes. Princesa Isabel: Uma Vida de Luzes e de Sombras, Editora Novos Ensaios Brasileiros, 3ª ed., São Paulo, 1990.

A História da Historiografia brasileira e a criação do IHGB


A História que nos é ensinada nas escolas brasileiras seguiu um padrão por muitos anos e acabou deixando rastros até a atualidade, onde apenas é vista como uma história factual e datada sendo imposta aos estudantes, que encontram dificuldades de ter uma percepção de análise crítica e buscar outras versões históricas. Além de haver também uma criação de estereótipos em homens e mulheres que participaram da construção da história nacional. Assim as escolas tornam-se carentes do conhecimento histórico e não apresentam as várias facetas da História do Brasil e de como ela foi escrita.  
Mediante aos estudos e pesquisas, é possível analisar o papel imigratório dentro da historiografia brasileira que vai além da força de trabalho ao sincretismo na formação cultural do Brasil. Uns dos primeiros intelectuais a escrever sobe a colônia foi Pero de Magalhães Gândavo que em 1576 publica a História da província de Santa Cruz que a vulgarmente chamamos Brasil, porém seu relato no livro é visto com uma simples propaganda da colônia, na qual enfatiza a vasta riqueza e beleza, já que no país não havia uma identidade nacional sendo uma possessão da coroa portuguesa vista pelos estrangeiros como uma terra desconhecida. Com a implantação da Companhia de Jesus na colônia para impor o cristianismo à população indígena, diversos jesuítas portugueses atraídos pelas diversidades da colônia escrevem suas crônicas relatando a fauna e flora, o comportamento indígena diante da conversão ao catolicismo, ou seja, relatando mais o contexto da natureza do que o histórico como escreveu Gândavo.
A obra mais importante do religioso italiano   
No início do século XVII, foi escrita por um religioso brasileiro a primeira obra intitulada de História do Brasil, Frei Vicente Salvador nascido na Bahia, escreve uma História, na qual serviu de fontes para outros intelectuais posteriormente. O autor recolheu uma série de fontes (orais e escritas), escrevendo com naturalidade deu um tom simples e humorístico como diz o Historiador Francisco Iglésias. Outro religioso que se destaca ao escrever uma História no período colonial era o italiano João Antônio Andreoni que se apresentava  como André João Antonil, que em 1711 escreve sua obra Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas  relatando funcionalidade dos engenhos de açúcar do recôncavo baiano (na qual ele desempenhava um importante papel em uns do maiores engenhos da região), o detalhamento e o que um engenho precisava para produzir uma quantidade considerável de açúcar mas também instrui senhores de engenho a fazer fortunas. Além de escrever sobre a economia local ele faz um parâmetro da sociedade que vivia no período.
Dentre os autores que desenvolveram e relataram nossa historiografia durante o século XIX, se encontra o inglês Robert Southey  que escreveu a primeira História do Brasil com real importância de estrutura, análise e estilo, sendo composta por um bom plano de erudição. Outro inglês que também obteve um grande destaque foi John Armitage em Londres, dois volumes do livro: The History of Brazil, from the period of the arrival of the Braganza Family in1808, to the abdication of Don Pedro the First in 1831.Compiled from State documents and other original sources. Forming a continuation to Southey’s History of that Country, no ano de 1836 usando de documentos públicos e outras fontes originais, foi sensitivo e intuitivo, obtinha pouca formação acadêmica, não podendo ser considerado eruditos tais escritos. Apesar de não tornar-se uma obra canônica dentro da historiografia brasileira, Armitage despertou os letrados oitocentistas em diversos aspectos.


Capa da Revista do IHGB na qual incentivava
aos intelectuais a escreverem a história do Brasil
A História do país era algo muito incerto no século XIX, pois há pouco tempo se tornara independente de Portugal e passava pela construção de identidade nacional (unificação vitoriosa de D. Pedro I em estabelecer o país em unidade). Após a abdicação do imperador era preciso haver um fortalecimento na identidade historiográfica do país, que estava em momentos turbulentos nos primeiros anos regenciais, e foi durante a Regência que o interesse pela historiografia do país começa a surgir com mais ânimo, em 1838 foi criado o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro ou simplesmente conhecido como IHGB, com o propósito de florescer o sentimento patriótico pela a História do país moldando um Brasil mais intelectual. A Revista do IHGB incentivava o gosto pelas pesquisas e muitos aspectos voltados para a História, além de promover congressos e concursos onde os ''historiadores'' apresentassem suas teses, se ramificando pelo país inteiro. O Instituto teve o constante apoio do jovem imperador D.Pedro II que em muitas vezes presidia as reuniões, com o propósito de incentivar as artes e ciências, o imperador patrocinou muitos  pesquisadores, que analisavam a História do país usando fontes até então desconhecidas e assim servindo de contribuição para a construção  da historiografia do Brasil.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS: 
IGLÉSIAS,Francisco. Historiadores do Brasil: Capítulos de historiografia brasileira, ed. Nova fronteira, ed. UFMG,2000.


ANTONIL, André João (João Antônio Andreoni), S.J.  Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas, Edição organizada por Afonso de Taunay. São Paulo: Cia. Melhoramentos de São Paulo, 1923.